domingo, 27 de fevereiro de 2011

Tara.

Que pezinho lindo, pensei. Os dedinhos pequenininhos, branquinhos. Poderia chupar todos eles. E olha que prefiro os longos e finos. Cervejas e mais cervejas. Eu gosto é da ilusão, bem se sabe. 8 da noite. Tenho que ir, ela diz. Eu, com o coração apertado, fiz de conta nem me importar. Rá.

Desde a mijada no banheiro eu já tinha me preparado: "vai dar tudo errado. Os corpos de vocês não irão se emaranhar hoje. Não hoje". Dito e feito. Ela lá eu cá. Até que não foi mal. Há coisa, meus amigos - e saibam disso! -, que precisam ficar apenas na mente. Pra que, oras, se concretizar? Não. Não. Deixe na mente, quietinho, guardado. Eis, a propósito, uma grande virtude: não se queixar pelo que deixou de ser. Tanto faz, afinal, que o que não foi não é.

Despedida formal. Toque de corpos. Choquinho. Química total. Eu e ela sabemos. "Fica comigo, por favor", minha cara dizia. "Seu lindo gostoso", ela pensava - deixem eu supor isso, vá.

Entro cambaleante no carro. Precisava de um corpo feminino. Precisava muito. Liguei pra quem me quer. Mais cervejas. Cigarrinhos convenientes. Poucas horas depois, lubrificação. Tapas, suor e água.

Nesse contexto todo, senti saudade do choquinho. Aquele. Saudade do que eu não pude ter. Saudade da boca que não toquei. Da pernoquinha que não beijei.

Só ri. Ri por tudo ser tão cômico e trágico assim. No exato momento em que eu conseguisse o que eu queria, tudo se tornaria simples e banal como qualquer outra coisa. O espelho da ilusão cairia despedaçado em meus pés. O cheiro do ralo.

Concluí, pois, que a tarde havia sido impecável. Irretocável. Foi tudo lindo.

EXISTEM DESEJOS QUE NÃO PRECISAM SE REALIZAR!