sábado, 25 de dezembro de 2010

Eu não te amo, e te desejo.

Sinto uma atração fatal, e você nem desconfia. Não recuso seus convites; não recuso suas beijos; não recuso seus carinhos. Posso sempre te perdoar. Sinto isso. Seja lá a besteira que você venha a fazer, eu sempre vou te perdoar.

Mas que espécie de submissão é essa? - me pergunto. Que tipo de atração é essa?

A impressão que tenho é a de que serei sempre um fantoche nas suas mãos. Faça o que quiser comigo. Faça besteira. Tudo bem. Só me dê algum tempo para esquecer. Rejeite a transa, mas me faça companhia.

Não posso dizer que te amo. Não. Eu definitivamente não te amo. Sei que você é uma vadia. E não vejo problema algum nisso. Você é uma mulher que nasceu para ser admirada. Nasceu para ter o mundo. Você é quase como que um homem safado e beberrão em um corpo de mulher. E isso me atrai. Como me atrai.

Já te disse uma vez que não nascemos para ficarmos juntos. Nascemos, isso é verdade, para nos encontrarmos quando em vez e sem data marcada. Nada pode ser agendado entre nós. É o acaso que nos norteia. Somos, nós dois, barcos que navegam sem um rumo muito definido e que algumas vezes se chocam.

E, quando se chocam, abre-se um mar de emoções, de lembranças; afinal, já vivemos muita coisa juntos.

Não guardo esperanças em relação a nós. Não posso ter esperanças. Mas uma coisa é certa: você me atrai pra caralho.

domingo, 21 de novembro de 2010

Programa do beijo

Domingo à tarde. Tédio característico. Sabe deus lá por que peguei o controle e inventei de sentar no sofá. Era Silvio Santos quem apresentava um programa de beijos. A ideia era a seguinte: uma fileira de mulheres que escolhiam o homem mais atraente. Genial e inovador, não?

Eis então que vem o primeiro homem, vestido de índio e dançando toscamente com uma flecha na mão. Nenhuma mulher se manifesta - eu, no lugar desse rapaz, me mataria assim que chegasse ao camarim -. Vem o segundo homem. Másculo, rebolou ao som de um axé "tchum tchá tchá tchum tchum tchá" qualquer e foi escolhido por uma loira oxigenada, sentada à esquerda. E assim a temática se desenvolvia.

Pois bem.

Na hora em que todas as mulheres já tinham escolhido os seus devidos machos reprodutores, entraram ainda mais alguns homens e então veio a pergunta, que me chocou: Mulheres, vocês querem trocar?

Cara, como assim? Eu refleti sobre isso. Na hora me veio a ideia de produtos, como não poderia deixar de ser. Um produto mais bonito que o outro, que você troca caso ele esteja viciado.

Tudo bem, meus amigos. Tudo bem. As relações de "pegação" modernas tem esse viés coisificado. Tudo bem. Mas aquela cena, revelando a coisificação de maneira tão nua assim, me fez pensar. Caralho. Me fez pensar.

A desgraça não parou por aí.

Em determinada altura desse programa intelectual, Silvio, com aquele seu dom divino da risada eterna, perguntava aos rapazes, e, após, às moças, se eles aceitariam quinhentos reais para não beijar a mulher que o tinha escolhido, ou, no caso da mulher, se ela aceitaria o valor para não beijar o cara que ela mesma tinha escolhido. A cada "não" o apresentador aumentava o valor, para provocar os filósofos participantes daquele quadro picante.

Eu tive que rir!

Ri mais ainda - risada com gosto de suicídio - quando uma mulher ACEITOU quinhentos reais para não beijar um cara que ela tinha escolhido. Puta merda! Qual deve ser o valor do beijo daquela mulher bonita que conheci ontem? - imaginei.

Pensei sobre esses fatos todos e pude mesmo concluir que em uma relação superficial, que ocorre nas raves e casas noturnas da vida afora, temos, todos, os nossos preços. Fica bem na nossa testa. O mais bonito, doze mil. O feio, alguns reais. A ferrari e o fusca.

Enfim. O que marcou foi o quanto o programa deixou às claras essa questão da escolha do parceiro se relacionar com a escolha de um produto. Isso ficou muito, mas muito evidente.

Bizarro para os olhos preparados; indiferente para os vulgares.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Frase que veio do nada:

Todos conhecem os percalços do amor, mas ainda sim nunca ninguém se cansa de amar.

Depois dessa me disseram que eu deveria ser poeta em vez de advogado. Eu disse de súbito: o advogado é um poeta!

Fiquei quietinho, pensando, e só pude chegar à conclusão de que eu sempre complico tudo.

Ri.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

cotejo de realidades

Pude, de verdade, vivenciar a existência de dois mundos. Dois mundo paralelos e não tão distantes.

No primeiro mundo, o elemento que existia era um boteco pequeno, apertado e com um aspecto sujo. As ruas eram iluminadas por uma luz fosca, amarelada, quase não-luz, mas que propiciava a mais bela das conversas e das gargalhadas. Era muito curioso o fato de todas as pessoas se conhecerem. Todos, absolutamente todos que chegavam no bar tinham um apelido qualquer. "Fala, zé perrela", dizia Chico. "Alá! O capitão do navio fantasma!", dizia Toninho. O contato humano era tão intenso e tão agradável ... Marcante! Quanto as pessoas precisavam sentir isso, pensei.

A essa altura, imaginei o que se passava no segundo mundo. Aqui, diferentemente do primeiro, havia um grandioso bar. Bar chique. Coisa de fino. O maior contato humano é o aperto de mão. Um suado aperto de mão. Em vez das alegrias sob a luz amarelada, a preocupação com o flanelinha, ávido por olhares. Em vez dela, da luz não-luz, amarelada que só, um foco desmedidamente brilhante, que impede o contato olho-olho entre as pessoas. Tudo frio. De gozo rápido. São tantos apetrechos, tantos aparatos, que talvez o cenário, que era pra ser de humanos, acaba virando um cenário de belos fantoches arrumados.

Pensei seriamente nessas duas realidades. A primeira delas tão viva, tão alma; a segunda, tão morta, tão sombra.

Preferi, naquele instante, o primeiro mundo. Fiquei, então, ali. Sentado em uma roda de amigos desconhecidos, ouvindo sambas antigos, tomando cerveja, fumando um cigarro esporádico lá e cá. Feliz. Sinceramente feliz. Marcado por aquela emoção toda; aquela simplicidade que fala; aqueles risos que ecoam.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Um epílogo sobre a tragédia, o renascimento e a arte

Há pouco um vínculo amoroso se rompeu e, quando nem me dei conta, já tinha sido levado pela flor de um outro amor. Esse amor representava pra mim uma utopia. Uma bela utopia. Um lugar nenhum que eu queria muito, mas muito mesmo conhecer. Esse meu novo amor me roubou; deixava-me extasiado, ansioso, eufórico, bonito, amante. E tudo isso porque nunca tive a certeza se a intensidade com que eu amava era a mesma com que eu era amado. Talvez a minha atração tenha se dado exatamente por isso: eu não sabia o que iria acontecer; não conhecia os caminhos. Aliás, será que amamos mais quando não sabemos ao certo o que a outra pessoa quer de nós? Será mesmo que esse jogo do amor funciona? Será mesmo que quando a mesa está posta, à mostra, faz-se desdém da comida? Só sei que roubaram o meu coração, meus amigos. Eu estava mergulhado; submerso; e o que é pior: sem proteção alguma. Amando com um coração de criança. Amando com uma candura divina.

Eis que, certa noite, tomo um tiro no coração. Um tiro muito bem dado no coração. Cheguei a morrer por alguns instantes. Só quis ir embora, ainda morto. Esquecer de tudo. É tão difícil olhar pra frente. É tão difícil, pra mim, não ser filosófico! Que alto preço eu pago!

Depois da morte e do renascimento, dei-me conta de que estou só. Eu e minhas ideias; eu e meus pensamentos; eu e meus queridos e amáveis filmes; eu e minhas leituras; eu e a mais bela discussão filosófica; eu e o violão! Ah! O violão! As belas canções que me aliviam a alma e a angústia, por tudo ser tão difícil assim.

Neste exato momento, cheguei a duas conclusões: como profetizara Gil, "preciso aprender a só ser"; a segunda conclusão é, e admito que preciso dizer mais isso, por soar pra mim, agora, como a maior das verdades: SÓ ME RESTA A ARTE!

sábado, 28 de agosto de 2010

Preciso me perder!

Quero mudar de tom. Me entendem? Eu estava muito achado. As ruas por que eu passava já me conheciam tão bem. Os meus amores a que me dediquei já me conheciam tão bem. As minhas reações já me conheciam tão bem. Precisava de me perder. E acho que fiz bem. Agora me sinto um tico mais livre; sinto-me mais próximo da minha solidão; e, quer saber? Isso me faz bem. Posso dizer que tirei alguns livros da minha velha mochila de escola. Agora é o acaso que me norteia. Tem o lado ruim, claro. Por vezes o susto. Por vezes o pânico. Por vezes a dor. Mas por vezes também a boa sensação de poder fazer o que sentir vontade. Até escrevo sem inspiração!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Certezas dos meus vinte e três anos.

Estimados leitores. Aos vinte e três anos de idade eu já me sinto confortável em dizer que carrego comigo algumas certezas. Vou tentar lembrar de algumas, e o resultado é aletório. Vejamos:

Ricos e pobres. Por mais incrível que isso possa soar, acredite: algumas pessoas não precisam trabalhar na vida - depois da vida, quem sabe ?! -; já outras, coitadas, têm que ralar duro. Têm que ir pra feira e acordar às quatro da manhã; têm que abrir uma lanchonete no centro da Cidade e aguentar pessoas sujas; têm que aprender a ser feliz com a tristeza. Em resumo, a dicotomia rico e pobre existe escancarada e impiedosamente.

Falibilidade humana. Saiba que médicos e advogados, ou quaisquer outros profissionais, por mais capacitados que sejam, erram. Quando você entrar em um hospital ou em um Tribunal, entre triste; chorando, de preferência. O médico tem uma chance considerável de deixar você mais torto que entrou, e o Tribunal tem uma chance considerável de fazer você esperar alguns longos anos, prolongando a sua angústia eternamente, como se você não precisasse de dinheiro ou de um conforto moral. E, ainda que o julgamento seja rápido, não se anime: ao final podem não acolher os seus pedidos. Por isso, não guarde otimismo algum ao se consultar com nenhum tipo de profissional. Geralmente é a deusa fortuna que ditas as regras do jogo.

Amor e casamento. O amor tem várias formas e cores e tonalidades. Você provavelmente vai se atrair por um alguém, mesmo já estando com um outro alguém. Muitas pessoas se casam pela conveniência e oportunidade. Casa-se porque se compra o sonho do amor eterno. Casa-se porque viver incansável e promiscuamente em busca do prazer não é monetariamente viável; nem fisicamente. Casa-se também pelo medo da solidão. Enfim, a atração, a afetação por alguém do sexo oposto que possa te trazer filhos férteis é inevitável. Vai a dica: case-se e se contenha. Nada de olhar para o traseiro das mulheres ou para as pernas dos rapazes; ou, então, assuma de vez uma postura solitária e assista, sempre que possível, ao filme "amor sem escalas". É que ele que não tem um final feliz, e isso vai te dar forças.

Bem, o que mais eu aprendi?

Ah. Trabalho. Você vai trabalhar a maior parte do tempo da sua vida. E, exceto se você der muita sorte, trabalhar será uma das coisas mais chatas. Você vai torrar a sua grana comprando tecnologias e prazeres, só que nada disso vai te deixar inteiramente satisfeito. Todo domingo à noite será uma divina tragédia e toda sexta à noite será uma divina comédia.

Meia idade. Na fase do casamento e dos filhos você não muda nada. Continua o mesmo brincalhão e bobo de sempre. A diferença é que pesa mais no seu ombro toda a desgraça da vida. Assim, poupam-se mais as brincadeiras. Mas a essência está lá, guardadinha. Basta juntar um monte de amigos, sem esposas ou esposos ao lado, e você verá a enxurrada de palavrões, putarias e atitudes de criança.

Por fim, aos vinte e três anos, acho que também internalizei a maior certeza de todas: a de que as suas certezas estão sempre mudando; é a eterna mutação do pensar e do agir.

sábado, 14 de agosto de 2010

O bêbado

O carro estava quase parando. Sinal amarelo; depois, vermelho. Pé na embreagem. Ponto morto. Freio. Movimentos automáticos. De repente, a cena - automática para alguns - daquele garoto jovem com dois pedaços de madeira na mão. Passei a observá-lo. Tentei fazer com que nada, nada mesmo me impedesse de olhá-lo. Prestei atenção nele; nos movimentos, no jeito, no traje, no olhar. Especialmente no olhar. Vazio, sem mundo e sem chão. Mas, e eu? O que tinha no meu olhar? Quem estava por de trás daquele julgador olhar? Cheguei à conclusão, não muito animadora, de que também os meus olhos tinham um pano de fundo vazio. Comparei-me ao garoto do sinal. Ele, fazendo movimentos bêbados e desengonçados com os pedações de madeira, e eu, em um carro confortável, veloz, mas distante do mundo. Tão distante do mundo quanto ele. Tão sedento por olhares quanto ele. Tão carente de atenção quanto ele. O sinal torna a abrir. Só fui me dar conta com a buzina do carro de trás. Eu, robô, passando as marchas; ele, acrobata e bêbado, jogando pedaços de madeira para o alto.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A cor do amor e a culpa do arrepio

Assim como tudo que existe no mundo, o amor muda. O amor de dez anos nunca é igual àquele de um ano, que, por sua vez, já não é mais igual àquele do primeiro encontro, do primeiro beijo. Não é que o amor acabe. É que ele muda de forma e de cor.

O amor dos longos relacionamentos se transforma em uma frase decorada. Conhecem-se as vírgulas, os pontos e as letras. Só que em cada período de sua vida, a frase terá um tom diferente. Com o amor também assim.

Você conhece a rotina: à noite, a conversa sobre o trabalho; nos finais de semana, uma saidinha para alguma festa ou bar; no fim do mês, o debate sobre as contas do supermercado. Com a rotina, você passa a conhecer o gosto e o jeito do outro. E em cada período do relacionamento, o amor ganha uma tonalidade diferente.

O amor tem períodos: a fase do êxtase; a fase do "cansei"; a fase do naufrágio; a fase do voo; a fase do "tá tudo perdido". Fases.

E é porque queremos sempre o novo, sempre o novo carrinho, a nova boneca; é por causa disso que o novo amor também nos encanta. Então, quando aquele amor já não está mais na fase das expectativas, do êxtase, vai-se em busca do arrepio.

Vai-se em busca daquela ou daquele cujas carícias tem uma cor diferente. Lembre-se: aquele velho amor não acabou. O problema é que manter saudável um amor velho é tarefa das mais árduas. Quer-se o novo. Quer-se a decolagem. E o engraçado é que se quer o novo mesmo sabendo que ele vai ficar velho.

Sabemos o caminho do amor. Sabemos das fases do amor. Mas nunca cansamos do amor, em especial do novo amor.

Acho que é tudo culpa do arrepio.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Ouviram do pirilampo as margens flácidas

Não posso mentir para vocês. Preciso externalizar a minha angústia e o meu sofrimento - calma, não falarei sobre Copa - e perguntar: o que eu lá tenho a ver com a vida do jogador Bruno do Flamengo? Se ele fazia orgias, lindo; se ele tinha amante, maravilhoso; se ele a matou e a esquartejou e a trucidou, sinceramente, eu não estou nem aí!. Claro que, como um bom cidadão, iria me chocar com tamanha brutalidade. De qualquer sorte, não é preciso que o goleiro Bruno do Flamengo - acho que repetir esse nome por mais de 3 vezes ao dia pode trazer azar. Cuidado! - saia na capa da revista Veja. Sua miopia ainda não alcançou os cinco graus: tem a cara de um jogador de futebol na capa de uma revista famosa porque ele supostamente matou uma amante. A cara do sujeito está lá, estampadíssima.

Precisava desse desabafo. Sinto-me até mais leve agora. Obrigado.

Cabe, por fim, parafrasear o sociólogo Bauman, que destaca que vivemos em uma época em que, dada a irrelevância dos aspectos políticos e públicos, o único assunto que realmente importa ou chama a atenção é o que cada um faz da sua vida particular.

Em curtíssimas palavras: o que eu faço da minha vida, o que você faz da sua vida, o que o goleiro Bruno faz da vida dele é o que realmente importa.

Haja fofoca!

É por isso que até as margens "flácidas" andam ouvindo. E ouvindo até de pirilampo!

domingo, 27 de junho de 2010

Uma conversa entre espelhos

Os espelhos, em especial os de elevador, vêem de perto a solidão humana. Quando o andar chega, todos descem e só resta um único passageiro, as coisas mais absurdas e inimagináveis acontecem. Vão desde caretas a choros. Triste e cômico assim. A relação ser humano x espelho revela bem quem somos. Agora pensemos neles, nos espelhos. Que rotina desoladora e quanta sobrecarga emocional eles aguentam...

- Um dia desses, quando todos saíram do elevador, um cidadão, um cara alto, magro e com uns braços longos deu aquela olhada clássica no rosto: conferiu se a calvície não tinha avançado; se nenhuma nova e maldosa espinha havia nascido e se nenhum arroz guerreiro do almoço havia gostado dos seus dentes. Eu só não contava com ...

- Com o quê?

- Com aquela coisa branca que reluziu para mim.

- Coisa branca?

- É. O safado abaixou as calças e virou a bunda pra mim.

- Nossa! Que horrível!

- Já suportei muitas coisas, inclusive amassos pra lá de calientes entre chefe e subordinado; agora, cá pra nós, mostrar a bunda? É o fim da picada!; o frigir dos ovos!

- Veja como nossa vida é triste: temos que aguentar tudo isso e sequer podemos nos suicidar.

- É. Ninguém pensa em nós. Todos se olham. Todos nos usam. Devo ter umas mil faces guardadas em minha mente. Mil faces desses seres tristes e indecifráveis.

- Nesses meus longos anos de existência, uma dúvida sempre me perseguiu: por que as pessoas esperam as outras saírem para poderem, só então, se olhar e reolhar? Por que é que na solidão eles se mostram tão estranhos assim?

- Não faço ideia.

- Suspeito. Apenas suspeito que a rotina deles é uma farsa total. Todos devem fingir que são comportadinhos e bem educados, mas, aqui dentro, dentro desse maldito elevador, revelam quem são! O quão sombrios e tristes são!

- É uma boa teoria.

- Alá! Alá! Vem vindo outro.

- É. Voltemos ao trabalho.

- Pois é. Acho que vou sacaneá-lo. Só de raiva! Vou aumentar o tamanho do nariz desse corno em três vezes!

- Te ajudo!

terça-feira, 22 de junho de 2010

Paulinho moska - tudo novo de novo

"Vamos começar
colocando um ponto final
pelo menos já é um sinal
de que tudo na vida tem fim"

Olha ... sinceramente? Fantástico. Arrepio ao ler isso. Como se não bastasse:

"É tudo novo de novo
Vamos nos jogar onde já caímos
Tudo novo de novo
Vamos mergulhar do alto onde subimos"

A música celebra, a meu ver, o recomeço, e transmite com sinceridade a ideia de que tudo, de fato, querendo ou não, inabalável e indestrutivelmente, tem o seu fim! Sim! Fim! E, já que é assim, tenhamos a virtude de nunca ter medo de recomeçar.

Sacaram? A grande jogada nossa é saber recomeçar; olhar com novos olhos; fazer novas leituras; novas versões. O lamento pelo que se foi já não dá em nada faz tempo.

A propósito, lembrei-me de los hermanos: tanto faz que o que não foi não é! (O velho e o Moço)

Pois bem. Quem nunca ouviu esta música "tudo novo de novo", por favor, ouça-a! Eu imploro!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Invictus - Copa do mundo - Brasil: um pouco de emoção.

Há tempos não tinha visto algo tão louco assim: dia de jogo do Brasil na Copa do Mundo. Ruas infestadas de camisas verde-amarelas, carros e motos andando em um compasso desordenado vapt-vupt. É o povo, composto de ricos e pobres, - e nesse dia não há distinção! -, urrando suas trombetas e sinalizando: vai, Brasil!

Esse "fenômeno" me lembrou o filme Invictus, em que Nelson Mandela, protagonizado por Morgan Freeman, faz de tudo para ajudar o time de Rugby da África do Sul a vencer um torneio. Esse time simboliza o apartheid, a segregação. Os brancos adoravam o time; os negros odiavam. Ajudando o time, pensava Mandela, um estigma estaria sendo quebrado. Um negro ajudando um time de brancos. Já era um começo.

Uma linha se pôs na história e dividiu os negros dos brancos, os pobres dos ricos. O filme, porém, e a Copa do Mundo, têm em particular a façanha de conseguirem unir todas as etnias, crenças e descrenças.

Hoje, na Copa do Mundo, sem embargo das críticas pertinentes que existem, é certo que, ao menos por um mês - grito! -, ricos e pobres cantam o mesmo refrão.

É pouco, eu sei. Mas que emociona, ah, emociona!.

Abraços calorosos.

domingo, 13 de junho de 2010

novos horizontes

Os pés dele faziam toc-toc no chão, revelando o seu tédio; a mão esquerda sobre o teclado, a direita apoiando a cabeça e a coluna semi-encurvada em uma cadeira dura e antiga terminavam de esculpir a cena.

Ê vida, pensava. Sem inspiração, cheio de dúvidas e desamores, decidiu tomar uma atitude: deitou em sua casa, puxou a coberta e se pôs a dormir.

Eis uma verdade: quando o sol nasce - ainda descubro por que ele insiste tanto nisso - novos horizontes sempre se abrem e, também não sei exatamente por quê, o que era triste já não fica mais tão triste assim.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

jornalonline.com

Se eu fosse fazer um jornal online qualquer, seguiria o seguinte esquema:

Na parte inicial haveria notícias sobre mortes e assassinatos. Coisas básicas, mas que surtem efeito, tipo: homem leva machadada e cai do trigézimo andar de um prédio. Confira as fotos!

No meio, para aliviar um pouco a dor causada pela parte inicial, notícias sobre futebol e celebridades. Não faltariam tópicos como: "Você acha que Ronaldo está gordo? Vote Já!". Ou, então: "Confira enquete sobre Amy Whinehouse e o alcoolismo".

Alfim da página, colocaria aqueles textos "pragaleracabeça", tipo: "Por que o PIB do Brasil cresce, mas ainda tem um mendigo dormindo na esquina da sua casa?".

Será que a fórmula pega?

terça-feira, 8 de junho de 2010

pensamento cabal

Acho que, de todas as verdades, a que mais me perturba é a de que o tempo é inexorável.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

sobre a ilusão

a noite;
o vento um pouco frio;
a fumaça do cigarro;
a ilusão da cerveja;
o delírio dos loucos;
a longa unha vermelha da meretriz;
o boteco da esquina;
a filosofia;
o barulho da sinuca;
a promiscuidade sensata.

Amo isso tudo. Amo porque sou parte disso. Sou parte dessa ilusão. Penso, e já nem tenho mais dúvidas, que a minha rotina - o que chamam de real e ordenado - é um meio para se obter a minha doce e efêmera ilusão.

Faço parte do metafísico. Sou fruto de uma geração sem grandes sonhos; sem um mal a combater; sou o meu pior inimigo!; quero o prazer a todo custo.

Bem-vindo à pós-modernidade!

Meus pensamentos são intangíveis. Nem eu os domino!.

A ilusão me deixa estar um pouquinho dentro da realidade.

sábado, 5 de junho de 2010

sintomas do amadurecimento

realizar grandes feitos e não sentir tanta vontade assim de contar para os outros.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

no açougue ...

- um rabo salgado, por favor.

Já tinha esperado muito tempo na fila. Saco. Ninguém gosta de esperar. Ainda mais quando se espera para pedir um "rabo salgado". É coisa de mãe.

Depois do pedido, aquele desolador vácuo no infinito. É. O silêncio. Aquilo que te persegue quando alguém entra no elevador, travando sua respiração e fazendo você olhar pras mãos. - Aliás, esse vácuo que se abre é o reconhecimento de nossa existência, mas isso fica pra outra postagem -. Não resisti, e mandei:

- Hoje tem flamengo, né? - preciso ser chato e repisar a ideia de que a falta de assunto, corporificada no silêncio, é, não raro, o "ente" mais coator que pode existir.

- É. É hoje.

- Você é flamengo? - perguntei

- Mengão, sempre. Tá aqui a carne.

- Brigado.

Açougues e elevadores: ambientes, inobjetavelmente, e por natureza (!), desconcertantes.