quinta-feira, 9 de setembro de 2010

cotejo de realidades

Pude, de verdade, vivenciar a existência de dois mundos. Dois mundo paralelos e não tão distantes.

No primeiro mundo, o elemento que existia era um boteco pequeno, apertado e com um aspecto sujo. As ruas eram iluminadas por uma luz fosca, amarelada, quase não-luz, mas que propiciava a mais bela das conversas e das gargalhadas. Era muito curioso o fato de todas as pessoas se conhecerem. Todos, absolutamente todos que chegavam no bar tinham um apelido qualquer. "Fala, zé perrela", dizia Chico. "Alá! O capitão do navio fantasma!", dizia Toninho. O contato humano era tão intenso e tão agradável ... Marcante! Quanto as pessoas precisavam sentir isso, pensei.

A essa altura, imaginei o que se passava no segundo mundo. Aqui, diferentemente do primeiro, havia um grandioso bar. Bar chique. Coisa de fino. O maior contato humano é o aperto de mão. Um suado aperto de mão. Em vez das alegrias sob a luz amarelada, a preocupação com o flanelinha, ávido por olhares. Em vez dela, da luz não-luz, amarelada que só, um foco desmedidamente brilhante, que impede o contato olho-olho entre as pessoas. Tudo frio. De gozo rápido. São tantos apetrechos, tantos aparatos, que talvez o cenário, que era pra ser de humanos, acaba virando um cenário de belos fantoches arrumados.

Pensei seriamente nessas duas realidades. A primeira delas tão viva, tão alma; a segunda, tão morta, tão sombra.

Preferi, naquele instante, o primeiro mundo. Fiquei, então, ali. Sentado em uma roda de amigos desconhecidos, ouvindo sambas antigos, tomando cerveja, fumando um cigarro esporádico lá e cá. Feliz. Sinceramente feliz. Marcado por aquela emoção toda; aquela simplicidade que fala; aqueles risos que ecoam.

7 comentários:

  1. As pessoas despidas de suas riquezas dão mais valor à essência. Que na verdade é o que mais importa: o calor humano, os encontros de almas, o riso sincero. Do contrário, quando o que se possui é mais relevante do que o que se é, quando o contato entre pessoas baseia-se em uma disputa de poder, ser não é tão importante quanto ter.

    Ainda bem que temos alma.

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  3. http://pt.wikipedia.org/wiki/Barfly

    http://1.bp.blogspot.com/_jY2IgogqMHo/S2t90HN78KI/AAAAAAAAD3I/J-pVNecjsKM/s400/bukowski+e+mickey+rourke.jpg

    Sim, o Mickey Rourke, que viveu o "The Ram" no Lutador, filme perfeito, que me deixou indignada por ter perdido o Oscar para aquela bosta de Milk com Sean Pean, que não tinha nada demais. O mesmo Mickey Rourke que contracena com Marisa Tomei (linda), que em um outro filme chamado Factótum, vive Laura, uma outra personagem do Bukowski. (tenho mania de fazer conexões entre as pessoas). Também achei o filme "tapa", mas quando soube que o diretor era Darren Aronofski, o mesmo de Réquiem for a Dream e Pi, entendi o porquê. O seu estilo tende a causar impacto, chocar, desconcertar .

    http://www.imdb.com/title/tt0417658/ Link pro Factótum.

    É uma produção dividida entre a Noruega e EUA. Melhor do que Barfly. Porque no Barfly, o Bukowski escreveu o roteiro a pedido de um cineasta, neste outro, alguém escreveu o roteiro baseado na vida e nas obras do Bukowski.

    E um capítulo à parte é a trilha sonora do Factotum. Foi feita por uma norueguesa, Kristin Asbjiorsen, que musicou vários poemas do Bukowski com uma interpretação e um arranjo impecáveis.

    http://www.youtube.com/watch?v=V9TU5dcHwEU

    *Eu me empolgo falando das coisas que eu gosto.
    *Vale a pena pesquisar e baixar tudo.

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  4. Eu vivo bem essa experiência, inúmeras vezes eu preferi estar entre as pessoas mais simples, mas se olhar e riso sincero, do que aqueles que te oferecem tudo menos o que há de verdadeiro nelas!!

    Adorei essa postagem...

    Sou sua mais nova seguidora! Bjim!

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  5. So para esclarecer: O BARFLY é com Mickey Rourke.
    O FACTOTUM é com a Marisa Tomei.
    E ambos estão n'O Lutador. Essa é a conexão.

    Ficou tudo muito confuso. O que escrevi antes. Eu estava eufórica por dizer e acabei me atrapalhando.

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  6. Ah, sim, e tanto Chinaski quanto Laura são personagens do Bukowski.

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  7. Boteco é coisa de povão e ponto final.
    Não adianta a gente reinventar determinadas coisas.

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