quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Falo ou escrevo?

Estava cansado de ficar sem escrever. Só ler, ler e ler me deixou frustrado. Comecei a pensar sobre o porquê dessa vontade louca de pôr pra fora coisas que nem sempre fazem muito sentido. Cheguei à óbvia conclusão de que sou melhor escrevendo do que falando. Quando escrevo, sinto-me mais eu; mais vivo; mais sincero. Talvez seja impressão minha. Só sei que prefiro a escrita. As vírgulas e os pontos são melhores do que o meu silêncio. Além disso, quando escrevo, tenho mais tempo para reler o que pensei; quando falo, não. Quando vi, já foi. Quando vi, já destruí o mundo e o reconstruí frustradamente em 2 segundos.

terça-feira, 19 de julho de 2011

O cheiro do ralo

Adorava a bunda dela. Era uma bunda redonda, branca, macia, charmosa. Sim: uma bunda charmosa. Tudo bem que o restante do corpo não era lá tão charmoso assim; mas a bunda ... Ah, que bunda! Pagaria quinhentos só pra tê-la pra mim. Ainda que eu pudesse tê-la de graça, pagaria. Pagaria porque tem coisas que precisam ser valorizadas.

Quando ia à lanchonete pela manhã, barbado, com a minha cara de zumbi, só conseguia olhar pra quela bunda. O hambúrguer gorduroso chegava a ficar sem gosto. Nada importava. Eu só via a bunda, aquele ente rechonchudo, coberto por uma calça jeans apertada.

Caso contigo, pensei. Caso contigo agora. Só não vamos poder trocar alianças, claro. Mas caso contigo, amor.


domingo, 26 de junho de 2011

Vocês bem sabem, queridos (irmãos?), que essa coisa de texto é foda. Você põe pra fora e quem digeri(e) é o sujeito da interpretação; aquele que, de fato, dá vida a tudo. Me perdoem os erros; me perdoem tudo; amanhã é domingo, dia da desgraça, dia do cansaço, dia da tragédia. De qualquer forma, indo ao que realmente importar, quero dizer a vocês que eu nunca liguei pra ela (aqui começa o texto). Nunca mesmo. Ela sempre esteve em minhas mãos e eu nunca me importei muito. Nunca dei a mínima, sério.

Mas hoje (preciso relevar) talvez eu tenha aprendido alguma coisa. Vivi o mal-estar. Queria mesmo estar com ela. E vejam, meus amigos: precisei vê-la com outro pra poder perceber que queria estar com ela, e exatamente agora eu quase choro. Ponho a mão direita na boca e penso: "Caralho... caralho ...". Sim. Completamente inconclusivo. Não sei explicar. Posse? Provavelmente ...

Ela está dando pra outro ... se deliciando com outro. E não eu. De fato, não consigo explicar.

As minhas palavras mais parecem gotas ... Gotas pesadas. Parece que errei o tempo todo. Suspiro. Suspiro fundo. Suspiro como se amanhã não fosse um domingo chatíssimo. Suspiro como se tudo fosse passar bem rápido.

Mas não passa rápido assim. Vocês bem sabem.

Eu acho que agora eu mais choro do que qualquer outra cousa. Eu nem consigo continuar.

O pior é que eu nem consigo continuar ...

domingo, 19 de junho de 2011

Um desabafo dos cachorros

Estou completamente virado, irmãos. Doido de mim, com cem porquês na cabeça. Pobre cabeça. Sinceramente, estou pensando no fato de que a nossa simples existência já é o suficiente para sermos responsáveis por determinadas pessoas.

Eu não te queria pra sempre. Eu não te jurei amor, porra. Mas, por que, ainda sim, você me disse palavras tão duras? Por que você me disse que eu te fiz sofrer? Por que você me disse que eu fui pilantra, cachorro? Por quê? Por quê?

Já não bastam as minhas próprias angústias?

Me deixe em paz. Só. Só isso.

Não me cobre. Não me exija nada.

Apenas venha quando eu pedir que você venha.

domingo, 15 de maio de 2011

O conto do relógio

Tirei o meu relógio do braço e o coloquei em cima da minha mesa.

Deitei e fiquei observando suas qualidades; tão metálico; tão brilhoso; tão evidente. Me questionei, porém, por qual motivo ele perdia um pouco disso tudo quando eu o usava. Por que é que ele só ficava majestoso quando eu o tirava do braço e o olhava de fora, como um terceiro observador?

Certo dia, eu, intrigado, fiz um teste: retirei o relógio do braço e o coloquei na mesa. Pensei: nossa! Que lindo! Imediatamente, coloquei-o no braço. Olhei com atenção o relógio. Posicionei o meu braço em vários ângulos. Busquei porque busquei aquela beleza de segundos atrás, mas não a encontrei.

Por que a graça se perdia de maneira tão trágica assim? Por quê?

Nesse exato instante, algo me levou à conclusão-teoria de que nós, imersos em uma dada realidade, não conseguimos enxergar com precisão a essência de nada daquilo que nos rodeia.

A solução seria nós nos elevarmos; teríamos que flutuar uns metros acima para, só então, extraídos do contexto, poder realmente enxergar. Ver com olhos abertos.

Pensei no quão bobas são algumas pessoas que se lamentam, por exemplo, por não terem dado a atenção que queriam a um ente querido que há pouco se foi. Lembrei também de lamentações corriqueiras do tipo: "Óh, poderia ter feito assim e assado"; "Óh, poderia ter amado mais".

Impossível ter agido diferente, concluí.

Impossível ter "amado mais", ter "sorrido mais", ter "chorado mais", pelo simples fato de que sempre interagimos. Estamos sempre inseridos em um contexto, em uma realidade. E, sendo assim, o brilho de tudo nunca é tão intenso.

Não podemos olhar o relógio na mesa e vesti-lo ao mesmo tempo. Ou você participa de uma peça e se acostuma com a personagem, ou você assiste à peça e acha a personagem magnífica.

Por conta disso, nunca conseguiremos amar de uma maneira surpreendente os elementos com os quais interagimos. Nunca conseguiremos dar valor máximo às coisas que possuímos.

Achei graça com o fato de que, sempre quando termino um conto qualquer, faço questão de analisá-lo imediatamente, publicado no blog. Leio-o como um visitante qualquer. Nessa segunda leitura, com olhos de terceiro, tudo me parece muito diferente daquilo que escrevi segundos atrás. E me soa muito melhor!



terça-feira, 3 de maio de 2011

Uma, duas, três e quatro

Saí como se fosse a minha última noite. Fui invadido por um cheiro gostoso, do tipo que não sei explicar - só sentir. Sentei na primeira mesa vazia ao alcance dos olhos e observei aquelas pessoas todas, andando em busca sabe-se lá do quê, pensando sabe-se lá o quê.

Sempre me senti impotente por não poder invadir a mente de quem eu quisesse e espiá-la todinha. Sorte a minha que essa sensação de impotência só dura até o exato instante em que eu concluo que é justamente essa impossibilidade de “invasão” que torna a vida humana possível e, algumas vezes - muitas pra alguns; poucas pra outros -, suportável.

De qualquer maneira, como eu não podia invadir a mente de ninguém, salvo a minha, cogitei, lá mesmo, sentado na mesa, que talvez todos estivessem pensando em uma forma de obter o máximo de prazer com o menor esforço possível. No fim das contas - convenci a mim mesmo -, não há mente que se distancie pra muito longe disso.

"Quer-se sempre o melhor e o mais gostoso por meio do menor lance".

No meio de toda essa complexa reflexão (óh), vem o garçom e pergunta, com singular delicadeza, segurando um pano imundo (será que ele iria enxugar o meu copo com aquilo alí?! - me amedrontei) na mão esquerda e um palito na direita, que agora já subia à boca, se eu iria provar o prato principal da casa, o "Molho de carne à peruana". Fui curto e educado o quanto pude: "Não, obrigado. Só uma cerveja mesmo".

Tomei uma cerveja, duas, três. Parei na quarta, bêbado de alegria. Gostei daquilo. A sensação de leveza, de libertação das angústias, dos pensamentos. A queda da censura. O corpo e mente davam as mãos e consentiam em flutuar.

Quanto às mulheres – não poderia deixar de falar delas -, que reine a sinceridade: era difícil encontrar alguma feia. Depois da quarta cerveja, as mulheres ficam mais finas e altas. As pernas ganham músculos. As tímidas ficam eloquentes. As eloquentes chatas se tornam suportáveis.

Eu queria tê-las todas pra mim, naquele meu estado de elevação espiritual. Queria também todos os meus amigos comigo! Queria mais! Queria um sol! Um sol todo queimante em cima de mim, pra eu me sentir mais eu.

Queria o mundo pra mim, é verdade. Eu me queria só pra mim. Todo. Completo. Preenchido. Queria morrer daquele jeito.

Depois da quarta cerveja, eu tinha virado foda. Chutei o balde de vez e berrei, doido em mim: Garçom! A quinta, por favor!

terça-feira, 12 de abril de 2011

A eterna transição

A cada passo, mudo. O vento bobo bate no rosto e carrega pra longe aquilo que fui. Ele sempre leva um quê de mim. Sempre. Sempre me reinvento. A todo o tempo. O não vira sim; o azul, amarelo; o bizarro, agradável. Não há regras. Não há porquês. Só há mudança. Sou a transição do que fui para o que serei. Sou a eterna transição. Não há definição que caiba em mim.