terça-feira, 3 de maio de 2011

Uma, duas, três e quatro

Saí como se fosse a minha última noite. Fui invadido por um cheiro gostoso, do tipo que não sei explicar - só sentir. Sentei na primeira mesa vazia ao alcance dos olhos e observei aquelas pessoas todas, andando em busca sabe-se lá do quê, pensando sabe-se lá o quê.

Sempre me senti impotente por não poder invadir a mente de quem eu quisesse e espiá-la todinha. Sorte a minha que essa sensação de impotência só dura até o exato instante em que eu concluo que é justamente essa impossibilidade de “invasão” que torna a vida humana possível e, algumas vezes - muitas pra alguns; poucas pra outros -, suportável.

De qualquer maneira, como eu não podia invadir a mente de ninguém, salvo a minha, cogitei, lá mesmo, sentado na mesa, que talvez todos estivessem pensando em uma forma de obter o máximo de prazer com o menor esforço possível. No fim das contas - convenci a mim mesmo -, não há mente que se distancie pra muito longe disso.

"Quer-se sempre o melhor e o mais gostoso por meio do menor lance".

No meio de toda essa complexa reflexão (óh), vem o garçom e pergunta, com singular delicadeza, segurando um pano imundo (será que ele iria enxugar o meu copo com aquilo alí?! - me amedrontei) na mão esquerda e um palito na direita, que agora já subia à boca, se eu iria provar o prato principal da casa, o "Molho de carne à peruana". Fui curto e educado o quanto pude: "Não, obrigado. Só uma cerveja mesmo".

Tomei uma cerveja, duas, três. Parei na quarta, bêbado de alegria. Gostei daquilo. A sensação de leveza, de libertação das angústias, dos pensamentos. A queda da censura. O corpo e mente davam as mãos e consentiam em flutuar.

Quanto às mulheres – não poderia deixar de falar delas -, que reine a sinceridade: era difícil encontrar alguma feia. Depois da quarta cerveja, as mulheres ficam mais finas e altas. As pernas ganham músculos. As tímidas ficam eloquentes. As eloquentes chatas se tornam suportáveis.

Eu queria tê-las todas pra mim, naquele meu estado de elevação espiritual. Queria também todos os meus amigos comigo! Queria mais! Queria um sol! Um sol todo queimante em cima de mim, pra eu me sentir mais eu.

Queria o mundo pra mim, é verdade. Eu me queria só pra mim. Todo. Completo. Preenchido. Queria morrer daquele jeito.

Depois da quarta cerveja, eu tinha virado foda. Chutei o balde de vez e berrei, doido em mim: Garçom! A quinta, por favor!

2 comentários:

  1. Se as pessoas pudessem ler seus pensamentos, tenho certeza de que se apaixonariam por você. Então eu teria muitas concorrentes hahahhaha

    Mas falando sério. Você é uma pessoa incrível. E acho isso pelo que leio da sua mente, aqui, nesse blog.

    Além de ser lindo, inteligente, sagaz... rs

    Chega de rasgar seda!

    Fui.

    ResponderExcluir
  2. Nossa! Tô tipo meio que ... sem palavras?

    ResponderExcluir