sábado, 28 de agosto de 2010

Preciso me perder!

Quero mudar de tom. Me entendem? Eu estava muito achado. As ruas por que eu passava já me conheciam tão bem. Os meus amores a que me dediquei já me conheciam tão bem. As minhas reações já me conheciam tão bem. Precisava de me perder. E acho que fiz bem. Agora me sinto um tico mais livre; sinto-me mais próximo da minha solidão; e, quer saber? Isso me faz bem. Posso dizer que tirei alguns livros da minha velha mochila de escola. Agora é o acaso que me norteia. Tem o lado ruim, claro. Por vezes o susto. Por vezes o pânico. Por vezes a dor. Mas por vezes também a boa sensação de poder fazer o que sentir vontade. Até escrevo sem inspiração!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Certezas dos meus vinte e três anos.

Estimados leitores. Aos vinte e três anos de idade eu já me sinto confortável em dizer que carrego comigo algumas certezas. Vou tentar lembrar de algumas, e o resultado é aletório. Vejamos:

Ricos e pobres. Por mais incrível que isso possa soar, acredite: algumas pessoas não precisam trabalhar na vida - depois da vida, quem sabe ?! -; já outras, coitadas, têm que ralar duro. Têm que ir pra feira e acordar às quatro da manhã; têm que abrir uma lanchonete no centro da Cidade e aguentar pessoas sujas; têm que aprender a ser feliz com a tristeza. Em resumo, a dicotomia rico e pobre existe escancarada e impiedosamente.

Falibilidade humana. Saiba que médicos e advogados, ou quaisquer outros profissionais, por mais capacitados que sejam, erram. Quando você entrar em um hospital ou em um Tribunal, entre triste; chorando, de preferência. O médico tem uma chance considerável de deixar você mais torto que entrou, e o Tribunal tem uma chance considerável de fazer você esperar alguns longos anos, prolongando a sua angústia eternamente, como se você não precisasse de dinheiro ou de um conforto moral. E, ainda que o julgamento seja rápido, não se anime: ao final podem não acolher os seus pedidos. Por isso, não guarde otimismo algum ao se consultar com nenhum tipo de profissional. Geralmente é a deusa fortuna que ditas as regras do jogo.

Amor e casamento. O amor tem várias formas e cores e tonalidades. Você provavelmente vai se atrair por um alguém, mesmo já estando com um outro alguém. Muitas pessoas se casam pela conveniência e oportunidade. Casa-se porque se compra o sonho do amor eterno. Casa-se porque viver incansável e promiscuamente em busca do prazer não é monetariamente viável; nem fisicamente. Casa-se também pelo medo da solidão. Enfim, a atração, a afetação por alguém do sexo oposto que possa te trazer filhos férteis é inevitável. Vai a dica: case-se e se contenha. Nada de olhar para o traseiro das mulheres ou para as pernas dos rapazes; ou, então, assuma de vez uma postura solitária e assista, sempre que possível, ao filme "amor sem escalas". É que ele que não tem um final feliz, e isso vai te dar forças.

Bem, o que mais eu aprendi?

Ah. Trabalho. Você vai trabalhar a maior parte do tempo da sua vida. E, exceto se você der muita sorte, trabalhar será uma das coisas mais chatas. Você vai torrar a sua grana comprando tecnologias e prazeres, só que nada disso vai te deixar inteiramente satisfeito. Todo domingo à noite será uma divina tragédia e toda sexta à noite será uma divina comédia.

Meia idade. Na fase do casamento e dos filhos você não muda nada. Continua o mesmo brincalhão e bobo de sempre. A diferença é que pesa mais no seu ombro toda a desgraça da vida. Assim, poupam-se mais as brincadeiras. Mas a essência está lá, guardadinha. Basta juntar um monte de amigos, sem esposas ou esposos ao lado, e você verá a enxurrada de palavrões, putarias e atitudes de criança.

Por fim, aos vinte e três anos, acho que também internalizei a maior certeza de todas: a de que as suas certezas estão sempre mudando; é a eterna mutação do pensar e do agir.

sábado, 14 de agosto de 2010

O bêbado

O carro estava quase parando. Sinal amarelo; depois, vermelho. Pé na embreagem. Ponto morto. Freio. Movimentos automáticos. De repente, a cena - automática para alguns - daquele garoto jovem com dois pedaços de madeira na mão. Passei a observá-lo. Tentei fazer com que nada, nada mesmo me impedesse de olhá-lo. Prestei atenção nele; nos movimentos, no jeito, no traje, no olhar. Especialmente no olhar. Vazio, sem mundo e sem chão. Mas, e eu? O que tinha no meu olhar? Quem estava por de trás daquele julgador olhar? Cheguei à conclusão, não muito animadora, de que também os meus olhos tinham um pano de fundo vazio. Comparei-me ao garoto do sinal. Ele, fazendo movimentos bêbados e desengonçados com os pedações de madeira, e eu, em um carro confortável, veloz, mas distante do mundo. Tão distante do mundo quanto ele. Tão sedento por olhares quanto ele. Tão carente de atenção quanto ele. O sinal torna a abrir. Só fui me dar conta com a buzina do carro de trás. Eu, robô, passando as marchas; ele, acrobata e bêbado, jogando pedaços de madeira para o alto.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A cor do amor e a culpa do arrepio

Assim como tudo que existe no mundo, o amor muda. O amor de dez anos nunca é igual àquele de um ano, que, por sua vez, já não é mais igual àquele do primeiro encontro, do primeiro beijo. Não é que o amor acabe. É que ele muda de forma e de cor.

O amor dos longos relacionamentos se transforma em uma frase decorada. Conhecem-se as vírgulas, os pontos e as letras. Só que em cada período de sua vida, a frase terá um tom diferente. Com o amor também assim.

Você conhece a rotina: à noite, a conversa sobre o trabalho; nos finais de semana, uma saidinha para alguma festa ou bar; no fim do mês, o debate sobre as contas do supermercado. Com a rotina, você passa a conhecer o gosto e o jeito do outro. E em cada período do relacionamento, o amor ganha uma tonalidade diferente.

O amor tem períodos: a fase do êxtase; a fase do "cansei"; a fase do naufrágio; a fase do voo; a fase do "tá tudo perdido". Fases.

E é porque queremos sempre o novo, sempre o novo carrinho, a nova boneca; é por causa disso que o novo amor também nos encanta. Então, quando aquele amor já não está mais na fase das expectativas, do êxtase, vai-se em busca do arrepio.

Vai-se em busca daquela ou daquele cujas carícias tem uma cor diferente. Lembre-se: aquele velho amor não acabou. O problema é que manter saudável um amor velho é tarefa das mais árduas. Quer-se o novo. Quer-se a decolagem. E o engraçado é que se quer o novo mesmo sabendo que ele vai ficar velho.

Sabemos o caminho do amor. Sabemos das fases do amor. Mas nunca cansamos do amor, em especial do novo amor.

Acho que é tudo culpa do arrepio.