segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Uma pedra inquebrantável

Esses dias peguei o meu celular e comecei a apagar algumas mensagens. Mensagens antigas. Mensagens recentes. Elas pareciam fotos verbais. Cada uma delas trazia a sua história, o seu tempo.

Estariamos fadados, pensei, à efemeridade do agora?

As trocas de carinho com a namorada que já se foi; os convites dos amigos para tomar cerveja; as mensagens de "feliz natal", "feliz ano novo"; as paqueras com as meninas. Estava tudo lá. Tudo documentado. Tudo angustiantemente estático. O passado me soou como uma pedra inquebrantável.

E esse esvair incessante do tempo ... que loucura! já nem parece que vivo. A vida como uma sucessão de eventos aleatórios, norteados pelo acaso. Cem porquês. Sem porquês.

Se eu me transformo a cada segundo; se todo o meu agora vira ontem; quem sou eu, afinal? Um eterno porvir?

O que faço agora? Vivo? Morro de viver?

No fim, tudo vira história.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Esquecimento global

Cinco dias insanos de gastação de dinheiro e álcool (Quím. Composto orgânico que contém hidroxila ligada diretamente a átomo de carbono saturado) na mente. Chego em casa na hora do almoço e me ponho a deitar. Dou uma cochilada e “trim-trim”, o celular já despertava e me convidava gentilmente a voltar para a diversão. Levanto meio cambaleante, os olhos inchados de vermelho e, na cozinha, meio que resmungo: “Nossa, que cheiro de forofa torrada”. Olhei pra minha mãe, que estava quieta e com a boca cheia, impedida de falar. Continuei: “Nossa, que cheiro de pipoca queimada. Que que é aquilo mesmo, mãe, aquela sementinha da pipoca?”. Minha mãe continuava com a boca cheia, e escreveu na parede, com o dedo. Eu mentalizei um “M”, e depois um “i”. Ela fez questão de colocar um ponto bem destacado no “i”, de modo a inviabilizar o meu erro. Falei: “ah, um ‘m’ e um ‘i’ ... Mi ... Mi o quê mesmo, caralho?” - Indignei-me internamente. Vivi horas de terror nesse momento. Eu sabia que era uma palavra muito, muito óbvia. Mas eu não conseguia lembrar! Será que era a cachaça? Será que eu estava passando por um processo de emburrecimento? – questionei. Segundos depois, solto um grito: MILHO! É MILHO, PORRA!!!!!
A vida é um contínuo naufrágio de tudo: dos seres e das coisas; das paixões e das indiferenças; das ambições e temores. (A. F. Schmidt)