quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Certezas dos meus vinte e três anos.

Estimados leitores. Aos vinte e três anos de idade eu já me sinto confortável em dizer que carrego comigo algumas certezas. Vou tentar lembrar de algumas, e o resultado é aletório. Vejamos:

Ricos e pobres. Por mais incrível que isso possa soar, acredite: algumas pessoas não precisam trabalhar na vida - depois da vida, quem sabe ?! -; já outras, coitadas, têm que ralar duro. Têm que ir pra feira e acordar às quatro da manhã; têm que abrir uma lanchonete no centro da Cidade e aguentar pessoas sujas; têm que aprender a ser feliz com a tristeza. Em resumo, a dicotomia rico e pobre existe escancarada e impiedosamente.

Falibilidade humana. Saiba que médicos e advogados, ou quaisquer outros profissionais, por mais capacitados que sejam, erram. Quando você entrar em um hospital ou em um Tribunal, entre triste; chorando, de preferência. O médico tem uma chance considerável de deixar você mais torto que entrou, e o Tribunal tem uma chance considerável de fazer você esperar alguns longos anos, prolongando a sua angústia eternamente, como se você não precisasse de dinheiro ou de um conforto moral. E, ainda que o julgamento seja rápido, não se anime: ao final podem não acolher os seus pedidos. Por isso, não guarde otimismo algum ao se consultar com nenhum tipo de profissional. Geralmente é a deusa fortuna que ditas as regras do jogo.

Amor e casamento. O amor tem várias formas e cores e tonalidades. Você provavelmente vai se atrair por um alguém, mesmo já estando com um outro alguém. Muitas pessoas se casam pela conveniência e oportunidade. Casa-se porque se compra o sonho do amor eterno. Casa-se porque viver incansável e promiscuamente em busca do prazer não é monetariamente viável; nem fisicamente. Casa-se também pelo medo da solidão. Enfim, a atração, a afetação por alguém do sexo oposto que possa te trazer filhos férteis é inevitável. Vai a dica: case-se e se contenha. Nada de olhar para o traseiro das mulheres ou para as pernas dos rapazes; ou, então, assuma de vez uma postura solitária e assista, sempre que possível, ao filme "amor sem escalas". É que ele que não tem um final feliz, e isso vai te dar forças.

Bem, o que mais eu aprendi?

Ah. Trabalho. Você vai trabalhar a maior parte do tempo da sua vida. E, exceto se você der muita sorte, trabalhar será uma das coisas mais chatas. Você vai torrar a sua grana comprando tecnologias e prazeres, só que nada disso vai te deixar inteiramente satisfeito. Todo domingo à noite será uma divina tragédia e toda sexta à noite será uma divina comédia.

Meia idade. Na fase do casamento e dos filhos você não muda nada. Continua o mesmo brincalhão e bobo de sempre. A diferença é que pesa mais no seu ombro toda a desgraça da vida. Assim, poupam-se mais as brincadeiras. Mas a essência está lá, guardadinha. Basta juntar um monte de amigos, sem esposas ou esposos ao lado, e você verá a enxurrada de palavrões, putarias e atitudes de criança.

Por fim, aos vinte e três anos, acho que também internalizei a maior certeza de todas: a de que as suas certezas estão sempre mudando; é a eterna mutação do pensar e do agir.

Um comentário:

  1. 'Cê é mais novo que eu. ¬¬
    Bem, as suas certezas baseiam-se na sua perspectiva das coisas. Algumas podem ser comum aos outros, algumas nem tanto e outras, nada.

    Quanto à inconstância das certezas, acho que é única certeza que podemos ter.

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