sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Um epílogo sobre a tragédia, o renascimento e a arte

Há pouco um vínculo amoroso se rompeu e, quando nem me dei conta, já tinha sido levado pela flor de um outro amor. Esse amor representava pra mim uma utopia. Uma bela utopia. Um lugar nenhum que eu queria muito, mas muito mesmo conhecer. Esse meu novo amor me roubou; deixava-me extasiado, ansioso, eufórico, bonito, amante. E tudo isso porque nunca tive a certeza se a intensidade com que eu amava era a mesma com que eu era amado. Talvez a minha atração tenha se dado exatamente por isso: eu não sabia o que iria acontecer; não conhecia os caminhos. Aliás, será que amamos mais quando não sabemos ao certo o que a outra pessoa quer de nós? Será mesmo que esse jogo do amor funciona? Será mesmo que quando a mesa está posta, à mostra, faz-se desdém da comida? Só sei que roubaram o meu coração, meus amigos. Eu estava mergulhado; submerso; e o que é pior: sem proteção alguma. Amando com um coração de criança. Amando com uma candura divina.

Eis que, certa noite, tomo um tiro no coração. Um tiro muito bem dado no coração. Cheguei a morrer por alguns instantes. Só quis ir embora, ainda morto. Esquecer de tudo. É tão difícil olhar pra frente. É tão difícil, pra mim, não ser filosófico! Que alto preço eu pago!

Depois da morte e do renascimento, dei-me conta de que estou só. Eu e minhas ideias; eu e meus pensamentos; eu e meus queridos e amáveis filmes; eu e minhas leituras; eu e a mais bela discussão filosófica; eu e o violão! Ah! O violão! As belas canções que me aliviam a alma e a angústia, por tudo ser tão difícil assim.

Neste exato momento, cheguei a duas conclusões: como profetizara Gil, "preciso aprender a só ser"; a segunda conclusão é, e admito que preciso dizer mais isso, por soar pra mim, agora, como a maior das verdades: SÓ ME RESTA A ARTE!

2 comentários:

  1. Muito bem colocada a analogia da comida hahahahahhha.

    Mas sério: acho que para esse texto não existe um comentário. Ele é cabal.

    Pelo que se pode notar, é evidente que sua liberdade está sendo muito melhor aproveitada do que seu vínculo amoroso.
    Acho que não é à tôa que "ball and chain" é uma gíria americana para "esposa, companheira". Antes eu achava essa expressão preconceituosa, mas vendo você agora, nesse caso, acho que faz todo sentido.

    (Ando revendo a minha escrita humor nonsense, uma vez que estou lendo Machado e escrevendo muitas besteiras não dignas das minhas influências. Não que vá abandonar meu humor, mas estou passando por aquela fase que você passou há uns dias atrás. Vamos ver se produzo algo melhor)

    ResponderExcluir
  2. Olá Sr. Pós-modernidade.

    Vim dar uma checada nas palavras, e dei de cara com este texto. O primeiro, de abertura (para mim, que acabo de chegar). Apesar de ter estudado durante cinco anos da minha vida a crítica literária (e afins) não tenho do que falar quando me dou de cara com textos como este.

    Me identifiquei completamente, até o ponto de exclamação. E penso, ainda bem que nos resta algo. E que este algo é tão amplo e fisgatório.

    Abraços, T.

    Volto logo.

    ResponderExcluir