sexta-feira, 4 de junho de 2010

no açougue ...

- um rabo salgado, por favor.

Já tinha esperado muito tempo na fila. Saco. Ninguém gosta de esperar. Ainda mais quando se espera para pedir um "rabo salgado". É coisa de mãe.

Depois do pedido, aquele desolador vácuo no infinito. É. O silêncio. Aquilo que te persegue quando alguém entra no elevador, travando sua respiração e fazendo você olhar pras mãos. - Aliás, esse vácuo que se abre é o reconhecimento de nossa existência, mas isso fica pra outra postagem -. Não resisti, e mandei:

- Hoje tem flamengo, né? - preciso ser chato e repisar a ideia de que a falta de assunto, corporificada no silêncio, é, não raro, o "ente" mais coator que pode existir.

- É. É hoje.

- Você é flamengo? - perguntei

- Mengão, sempre. Tá aqui a carne.

- Brigado.

Açougues e elevadores: ambientes, inobjetavelmente, e por natureza (!), desconcertantes.

Um comentário:

  1. caro Sr. Anônimo, ou melhor, Sr. Pós-modernidade, mas que belos contos o senhor escreve! Creio já ter sido leitora deste autor. Ou me engano?

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