Fiquei a olhando por um bom tempo. Imperfeita, tresloucada, mímica, desviada. Toda errante. Mas com vida. Não acenda um cigarro, pensei. Em vão: ela põe a mão no isqueiro e leva um Marlboro à boca. As pernas cruzadas e o esmalte vermelho precisando de retoque davam o tom da poesia. Sou fraco pra essas cenas, irmãos. Muito fraco.
Ela conseguia potencializar todos os meus ideais destrutivos: querer o impossível; a conversa interminável; o gozo eterno. Vadia.
Seria divertido se ela soubesse disso tudo, com a condição de que guardasse só pra si.
Dei uma golada discreta na cerveja e acendi também um cigarro. Queria me unir a ela de alguma forma, ainda que por meio do toque transparente das fumaças. Amarga ilusão.
Ao cabo de tudo, já às cinco da manhã, as despedidas formais, os abraços. A realidade começa a dar as caras. Chego em casa sóbrio, incrivelmente sóbrio. Concluí que esse era o meu castigo final. Sentenciado à guilhotina!
Preferiria a tontura e o vômito. A tragédia patente, inescondível. Mas tive que dormir ao lado de mim.
De uma maneira perturbadora: Lindo.
ResponderExcluirE então, até que ponto vale a sanidade, a polidez, o controle? Por que não puxá-la pelo braço, dando uma de doido e dizer: "Vem comigo!"/ "Pra onde?"/ "Não interessa. Só vem."
"Até que ponto vale o controle?" Como eu queria a resposta!.
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